domingo, 8 de março de 2009

Saga de uma paulista na capital mineira

Ainda teremos muitos posts sobre isto.
Para quem não sabe, casei e vim morar em Belo Horizonte. Para alguns é "Roça Grande", "Capital caipira" e outros apelidos jocosos, prefiro ficar com as comparações.

Pela primeira vez, peguei o carro e me aventurei pela cidade. Até então, andei de ônibus. Sabe como é: Google maps, BHTrans (sistema de transporte público de BH), 5 reais no bolso e não tem erro. Tal como andar em Sampa. O máximo que pode acontecer é não parar no ponto, mas é quase impossível com a hospitalidade do povo mineiro.

De qualquer forma, lá fui eu. Aventurei-me a ir até Contagem, com um amigo, é claro. Peguei a avenida de maior fluxo da cidade, Amazonas, perto de casa por sinal.
É incrível, senti-me no mar de rosas da gentileza urbana do trânsito caótico. Ninguém tem pressa (isto é bom e isto é ruim, depois eu conto).
Você dá seta e 3 ou 4 carros depois, alguém espera você entrar. Ficou desesperada pois se engarrafou entre dois ônibus, na faixa de ônibus (sim, você estava passando lá por acaso)? Não há problema, eles "faroleiam" e você sai tranquila.
Ah, e, pela primeira vez NA VIDA, eu vi isto: ELES-NÃO-ENCHEM-A-SUA-ORELHA-COM-BUZINA-QUANDO-FECHA-O-CRUZAMENTO. (nem te chamam de morfética, lazarenta pra baixo)
Sei lá se é por compreensão (pq, é óbvio, vc não fechou o cruzamento porque quis, você achou que ia dar tempo, o trânsito estava infernal e pá: lá está você em cima daquelas vexatórias faixas amarelas riscadas), por preguiça ou porque eles não têm pressa mesmo. Mas eu nunca tinha visto isto.
De qualquer forma, desde que estou aqui -- peguei o carro para uns passeios mais curtos também -- nunca ouvi um desaforo no trânsito.
Senti até vergonha de São Paulo. O trânsito é uma troca de insultos. Até me lembro da principal recomendação do meu ex-namorado quando eu aprendia a dirigir: nunca feche um cruzamento! É o seu fim como motorista. Em Minas, o fim deve ser um 'cadinho mais pra frente.

Para quem irá se aventurar por BH: aperfeiçoe-se bastante no pé-de-pato ou o controle-de-embreagem-em-morros-acentuados. A parada aqui é Rock'n Roll.

Mas não pensem que tudo é assim, um mar de rosas. Se uma paulista sofre, um paulistano tem ataques histéricos aqui. Até você entrar no ritmo, é óbvio. Mas já passei por várias situações particularmente irritantes.

Na pizzaria:
30 minutos até vir o garçom. 45/50 até vir a pizza. 20 para chegar a conta. Mais 20 para chegar o troco. É fato: em SP isto é i-nad-mis-sível. Na segunda espera, qualquer paulista(no) já estava dando piti. Ao passo que os mineiros que me acompanhavam achavam aquilo nor-mal.
Em suma, recomendo pagar no cartão ou o valor exato. Depois de tanta espera, os 20 minutos do troco tornam-se insuportáveis.

Na lotérica (pagar conta):
Fila. Cinco pessoas à frente. Para andar duas pessoas: 5 minutos.
Para andar as últimas três pessoas: meia-hora.
Por quê? Porque elas conheciam a mulher do caixa, o marido da mulher do caixa, a filha da mulher do caixa que tinha câncer, o cunhado do sogro da mulher do caixa e mais uma pá de parentes. Fizeram questão de perguntar como iam todos, um de cada vez, e o que estavam fazendo da vida.
Em SP, alguém já tinha pedido a "gentileza" de andar logo com esta fila.

Na loja de roupas C&A:
Foi o ápice.
Estressei com a falta de atendimento. Uma mulher apenas para atender uma fila gigantesca. E nenhum gerente cretino para remanejar pessoas. Eu não ia descontar na mulher do caixa, não é? Uma trabalhadora que não ganha nada além do trabalho fdp que ela tem. Mas o gerente, não. Se a loja tem lucro, o gerente ganha. Então pau nele!
Chamei o responsável, arrastei o sotaque mineiro, o máximo que podia, e desci a lenha.
Por que no mineirês? Simples: porque já ouvi várias vezes: "xi, liga não, esta aí é paulista estressada". É mole?

No ônibus
Neste caso, eu faço minha auto-crítica: fui de uma grosseria sem fim. Só descobri depois. Mas é que SP embrutece as pessoas tão rapidamente que você faz certas coisas e considera-as normal.
Estava no ônibus, um calor infernal, tinha saído da aula de flamenco, um sujeito senta-se ao meu lado e puxa conversa. Ora vejam, eu não estava afim de conversar. E, simplesmente, respondia: "unhum", "ah", "eh". A mulher ao meu lado devorou-me com os olhos e eu não entendia.
Até que o senhor perguntou: "Você sabe onde eu desço para ir à rua X?".
Uai, eu não sabia. Não conhecia BH radicalmente, eu só sabia pegar o bus número X e descer no ponto Y. Mais nada.
A mulher que me devorava com os olhos puxou conversa com ele, informou onde era, eles começaram a trocar a maior idéia e, na hora de descer, o senhor fez questão de dar "tchau" só para ela e me deixou no vácuo. Sim, eu arrisquei dizer tchau também e falei com o além.
A mulher voltou-me a devorar praticamente dizendo: "aprendeu como se faz em Minas?".
Saí meio transtornada e encabulada.

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