quinta-feira, 2 de abril de 2009

O amor como obra de arte

A arte deve ser livre. Livre de imposições, de funções. Livre para a revolução, como disseram Trotsky e Breton.
Num primeiro momento podemos imaginar que tudo pode ser arte, ou que sua liberdade está condicionada em última instância a servir à Revolução. Mas é da relação dialética que a arte pode exprimir do mundo capitalista é que devemos desejá-la livre, lutar por sua liberdade desde agora e em conjunto com outras lutas políticas e econômicas que travamos cotidianamente. Mas, é claro, que ela será uma grande expressão das angústias humanas: nossa subjetividade produzida por relações concretas, por leis da existência, pela opressão e exploração de um sistema que se reproduz pela morte de uma classe. Essa é a matéria-prima, a fonte na qual bebe a arte revolucionária e independente. E são poesias, esculturas, gravuras, melodias, sons e objetos, dramas, romances, comédias e farsas. Trovas, prosas, poemas...são arte!
Assim também é com o amor. Uma relação social, como as demais, e que expressa a síntese de tudo o que vivemos cotidianamente como seres objetivos. Amamos como vivemos. Acabamos reproduzindo no amor nossas angústias humanas: nossa subjetividade produzida por relações concretas, por leis da existência, pela opressão e exploração de um sistema que se reproduz pela morte de uma classe. E assim como na arte, o amor também precisa ser livre. Porque a arte livre não se ajoelha diante da sua fonte, da sua realidade concreta. Ela a expõe, mas não capitula, ela procura superar essa angústia ao transformá-la em obra. O concreto-subjetivo-concreto, numa espiral que se forma e transforma num movimento contínuo.
Assim também é com o amor livre. Expressão máxima não apenas das angústias humanas, mas das relações que os seres humanos constroem sobre uma base material concreta. E assim sendo, está constantemente sob pressão para ceder, curvar-se de joelhos ante os algozes do capital e de suas ideologias e vícios. O amor romântico, construído e vendido pela burguesia, transformou o grau maior do amor em matrimônio (precedidos pelas nomenclaturas positivas namorados, noivos – enquanto criava, ao mesmo tempo, as nomenclaturas negativas: amantes, amasiados, concubina, entre outros). Ora vejam; PARA A BURGUESIA o amor tem grau e pode até ser registrado em cartório para garantir sua legitimidade!! E assim como faz com todas as relações, a burguesia escravizou o amor e o dominou sob sua ditadura. Por isso, para que todas as relações sejam livres, é preciso desejar e defender o amor livre. O amor dialético do concreto-subjetivo-concreto, o qual não se curva e que se propõe a estar lado a lado das outras manifestações políticas da luta permanente por outro mundo. Porque o amor – assim como a arte – é pensado, é construído por cada um dos seres envolvidos nesse sentimento. Sua forma, seus princípios, suas táticas são parte do amor como se fosse obra de arte. Os amantes livres são ao mesmo tempo veículo e artista (da arte e, nesse caso, veículo do amor – lugar onde se concretiza a arte e o amor). Seus corpos, seus olhares, seus gestos, os livros que carregam sob o braço, os abraços às vezes loucos e outros comedidos e outros tantos apaixonados e os sonhos sonhados... Corpos arrasados pelo trabalho alienado e mortificante, mentes destruídas pela insistência da classe inimiga de querer nos fazer acreditar na “nossa” incapacidade... mentes sedentas por respostas, por compreender o que parece incompreensível, mentes que procuram a saída...Corpos famintos de desejo, de prazer, de toque, de força, de gritos e gemidos. Mentes e corpos sedentos de companheirismo, de solidariedade e de amor. Talvez não saibam, mas esses amantes estão em busca de amor livre! Amor, como disse Moreno: a mais sublime de todas as relações que podemos construir. Um amor entre camaradas!

Nenhum comentário: